A IMPORTÂNCIA DO VICE
Vice histórico
Em homenagem ao ex-vice-presidente José Alencar, que faleceu nesta terça-feira, fizemos uma lista com vice-presidentes que ficaram famosos
No dia de sua morte, nesta terça-feira, 29 de março de 2011, José Alencar não era mais o vice-presidente do país. Mas sua presença ainda ressoa quase cem dias após ele ter saído do posto. Uma das razões para ele ter ficado marcado era o fato de, contabilizando todos os momentos de viagem do ex-presidente Lula, Alencar esteve por mais de um ano no cargo mais importante do Brasil. Mais que alguns presidentes. Outra era a sua oposição forte a uma política monetária, baseada na elevação de juros, em detrimento dos incentivos desenvolvimentistas. Por último, a força de um homem que lutou por anos contra o câncer, sem nunca esmorecer, ou mesmo perder o otimismo. Em homenagem a Alencar, fizemos um apanhado de vices que extrapolaram as suas funções e assumiram o principal posto do país.
Logo no início da nossa história republicana, o homem que proclamou a República não conseguiu terminar o seu mandato: o marechal Deodoro da Fonseca não conseguiu lidar com as pressões políticas e renunciou em 1891. Assumiu em seu lugar o primeiro de muitos vices que marcariam a memória nacional: o também marechal Floriano Peixoto, que governou por cerca de três anos de maneira implacável em suas posições em um momento de consolidação do regime republicano. Sua dureza contra os opositores lhe rendeu o apelido de “Marechal de Ferro”.
Quase 20 anos depois, foi a vez de Nilo Peçanha assumir o cargo de presidente do país, mas, dessa vez, por conta da morte do então ocupante, Afonso Pena, em 1909. Peçanha apenas completou o tempo do antecessor, ficando pouco mais de um ano no governo. Caso parecido aconteceu com Delfim Moreira, em 1918, que governou até 1919, por conta da morte de Rodrigues Alves, vítima da gripe espanhola, antes de assumir o cargo. Delfim ficou tempo suficiente para a convocação de novas eleições.
Também assumindo por conta da morte do presidente, mas num contexto completamente diferente, é a vez de Café Filho, vice de Getúlio Vargas, em 1954. Filho alçou de posto quando na noite de 24 de agosto, Vargas decidiu por conta própria sair da vida para entrar na História. Vargas, em sua primeira passagem pelo poder nacional (de 1930 a 1945), já tinha renunciado da presidência. Mas, em seu lugar, assumira não um vice, porque ele não o tinha, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal, José Linhares.
Na década seguinte, em 1961, foi a vez de João Goulart, afilhado político de Vargas, assumir a presidência da República, após a renúncia de Jânio Quadros, que ficou no cargo apenas sete meses. Jango já tinha sido vice de JK e enfrentou diversas dificuldades para assumir o posto principal, que resultaram até na instauração de um regime parlamentarista inédito na República brasileira, que tinha como primeiro-ministro Tancredo Neves. Goulart é derrubado por um golpe em 1964 para a instauração de uma ditadura que duraria 21 anos.
Em uma grande coincidência histórica, logo após esse período, Tancredo seria novamente lembrado ao lado de um célebre vice. Eleito indiretamente para assumir o principal cargo do país no processo de democratização em 1985, o político mineiro morreu antes de tomar posse oficialmente. Seu vice, o controverso político maranhense José Sarney, que tinha militado no partido que apoiava os militares, fica com a responsabilidade de ser o primeiro governante nacional após a ditadura.
Fernando Collor de Mello, que assumiu a presidência substituindo Sarney, na primeira eleição direta desde antes da ditadura, também foi outro que não terminou seu mandato. Por conta de denúncias de corrupção, ele enfrentou um processo de impeachment, fazendo com que Itamar Franco assumisse, em 1992, e completasse o mandato, até 1994.
Desde então, o Brasil conseguiu manter o processo democrático de sucessão presidencial, enfraquecendo, assim, a alcunha de ser o país dos vices. Mas, com a presença constante de Alencar, percebemos que nem sempre o vice precisa se tornar presidente para que sua importância seja reconhecida.
Fonte:Revista de História da Biblioteca Nacional
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